Igreja de Deus no Brasil

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sexo e Poder


O lugar da mulher nas relações familiares e sociais chama à atenção cada vez mais. Não teria porque ser diferente a partir da consideração de que nossos dias assistem a um importante descortinar de possibilidades, conhecimentos e reconhecimentos. 

Através do trabalho de Elizabheth Brusco, que utilizou de pesquisa de campo e informações bibliográficas, com uma visão antropológica, no contexto colombiano, o empoderamento da mulher é considerado a partir de sua inserção ao pentecostalismo. A conversão das mulheres foi considerada um caminho para sua “emancipação”, ou pelo menos para uma condição de maior equilíbrio dentro do contexto familiar. 

A autora noticia conquistas de significado no ambiente de convívio, em específico no seio religioso, conferindo às mulheres um sentimento de relevância. Isto através de uma participação efetiva, com ações de liderança, de exercício de autoridade, e até mesmo de divisão do poder, como exemplifica no caso de esposas de líderes eclesiásticos. 

Por outro lado, aponta a fé religiosa como instrumento de retorno do macho aos valores e participação familiar. Uma domesticação do homem. Contudo, não reputando que os fatos apresentados se revistam de equívocos, a manutenção deste fenômeno meramente como objetivo de luta, a partir de uma perspectiva feminista, nos provoca a inserir a consideração destes resultados mais como consequências de algo que veio primeiro, ou seja, o do exercício de uma fé religiosa em si mesma. 

Assim objetivamos neste artigo, a partir de uma visão bíblico-teológica e de um vivência ministerial, mostrar que a restauração do respeito à mulher, bem como o resgate do homem, como membro ativo e participante da vida comum do lar, tendo na mulher um ser parceiro, a ser tão considerado quanto ele próprio, é fruto, essencialmente, não de um movimento social, mas da consideração da própria vontade de Deus. Trataremos do tema a partir da consideração de alguns pressupostos da própria fé religiosa, exemplos bíblicos e constatações resultantes da experiência pastoral de que dispomos. 

Entre os principais fatores para o desprezo da mulher como indivíduo é exatamente a não consideração da importância que o próprio Deus lhe deu enquanto ser criado, de modo especial, e do próprio homem (Gn. 2.21,22). E reconhecer a mulher como criada a partir do homem em nada diminui sua importância ou lhe relega um lugar de segundo plano, pois a mesma base utilizada para defender sua origem a partir do homem, a Bíblia Sagrada, também garante uma relação de parceria, de companheirismo, de criada a partir de mesmos elementos, a ponto de ser reconhecido pelo primeiro homem, que sua companheira era “carne de sua carne” e “osso de seu osso” (Gn 3.23).

Nenhuma relação de subserviência foi estipulada. O que aconteceu depois foi fruto de um desvio marcado pelo primeiro ato de rebeldia humano, quando um princípio foi quebrado: o de reconhecer como essencial a orientação do criador para suas criaturas (Gn. 3.6).

Aquele ato não só deu razões para a alteração profunda nas relações entre Deus e o homem, fato descrito em todo o contexto bíblico, mas também para o desequilíbrio das relações entre os próprios homens. Inaugurou um imenso número de males que marca a humanidade desde então.
Consta deste desequilíbrio a espoliação de um ser humano pelo outro, tal como, entre outros casos, se registra em todas as situações em que as mulheres são alvo da usurpação de seus direitos, pelos homens, as subjugando grosseiramente.
Pela importância que a consideração da essência religiosa merece, importa que nesta primeira consideração reste clarificado que a concepção religiosa, já a partir do projeto de Deus para o ser humano exigia uma consideração de parceria, auxílio idôneo, respeito e consideração (Gn. 2.18).

O contexto histórico registrado pela Bíblia é de uma humanidade carente de Deus. Na história registrada no Antigo Testamento esta humanidade passa por diversos percalços, que de modo claro nos aponta situações em que as mulheres continuam sem expressão, mas que também a humanidade continua distante de Deus. É uma continuidade de uma relação de desequilíbrio daquilo que um dia fora uma relação harmoniosa e de pleno companheirismo.

O Novo Testamento nos abre a consideração da mulher como participante no ministério de Cristo, presente, apoiando financeiramente, e tendo, inclusive, a liberdade de assumir diversas posições de destaque, como nos comprovam os registros do Apóstolo Paulo. Por seus registros, temos várias líderes de igrejas, conforme notas no último capítulo da Carta aos Romanos, e diversas outras notas símiles. Note-se que é um contexto religioso, com retomada de relações com Deus, fruto já do ministério de Cristo. 

A par do fato de que é neste contexto que palavras duras são expressas, tendo como objetivo limitar a liberdade da mulher, ao mesmo tempo a própria necessidade de regulação nos aponta uma expansão de sua participação. Sem objetivar relegar a limitação a plano inferior, a própria liberdade do uso de dons espirituais, como o dom de profecia e o dom de línguas também sofreu regulações, e todos em função de um excesso, e a bem da ordem (1Co. 14.34). Contudo abundantes são as provas de que a mulher estava presente não mais em um contexto de subjugação e humilhação, mas sob, inclusive, uma responsabilização ao homem, marido, de que deveria amá-la, a ponto de dar a sua vida por ela, assim como Cristo deu sua vida pela Igreja (Ef. 5.25).

Os valores então presentes no cristianismo primitivo, e consagrados nas páginas do Novo Testamento, são os mesmos trazidos ao seio das igrejas pentecostais modernas, objeto da consideração da pesquisadora em apreço. E são valores que encontram a humanidade igualmente carente e distante daqueles preceitos queridos pelo Criador, que em momento algum permitiu o desprezo à mulher. 

Ocorre que, antes da consideração de uma busca pela libertação social, a mulher alcançada pelo movimento pentecostal, em regra, é primeiro alcançada pelo reconhecimento de sua condição de distante de Deus, como consequência de uma distância que marca a própria humanidade. Tal distância é comprovada pelas práticas comuns de toda sorte de ações que findam por causar dano aos próprios praticantes, mesmo que sob o objetivo de obtenção de prazer. Ao final tão somente comprovam a necessidade que todo homem tem de se guiar por valores religiosos, dando valor ao seu lado transcendental. 

Estes valores cristãos em evidência é que são buscados em primeiro plano. Até porque, como bem registrado pelo texto da Dra. Elizabeth Brusco, as mudanças no seio da família não se dão com as conversões das mulheres, mas com as conversões dos homens. Assim, quando as mulheres veem à igreja, à única segurança que de fato podem ter é a de satisfação de sua fé. Um sem número de mulheres na igreja continuam a sofrer as relações desiguais em suas famílias e por onde mais possa conviver. A igreja não deve vender o que não pode entregar. E uma destas coisas, que ela não pode entregar, é exatamente a garantia de valorização social, além de suas próprias fronteiras. 

É claro que o ambiente da própria igreja é uma busca, mesmo que sob as limitações de todos que a compõem, de retomada de valores divinos, incluso em relação à adequada valorização do gênero. E não é adequada exatamente porque a igreja é o local onde acontece um processo de aproximação do homem com seu Criador. Processo expresso no contexto bíblico por ideias, tais como a que diz que “a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”.

 Este processo também é expresso no conceito teológico da santificação. Um processo constante e gradual de assimilação de características do próprio Deus e igualmente gradual distanciamento de pensamentos, palavras e obras desprezíveis do ponto de vista da vontade revelada de Deus, a Bíblia Sagrada. Neste processo está a transformação do ser humano, e sua reconsideração dos valores de Deus. Como é processo, é natural que sejam encontrados no seio da igreja, ainda, reconhecível distância do ideal. Por tal, reputa-se como marca da necessidade de crescimento espiritual a presença do machismo até no seio da igreja, mas também são percebíveis conquistas neste sentido. 

A tese de que a igreja é procurada em razão da condição de marginalizados daqueles que a procuram, com o fito de meramente buscarem uma reinserção, despreza também o sentido da fé e carência espiritual destes que se tornam fieis. Não se pode desprezar a presença de um movimento feminista no seio da igreja, mas de nenhuma forma é razoável que o fator “conversão” seja desprezado como motivo maior para a vinda das mulheres para o ambiente pentecostal. Comprova-se isto a premissa bíblica de que “quem quer vir após Cristo deve negar-se a si mesmo” (Mc. 8.34). Vejamos: antes de ser um objetivo, o resgate do indivíduo, a fé cristã tem por princípio a autonegação. Só com esta autonegação é que ocorre o que podemos constatar a retomada de posicionamento, agora em busca da correçao de valores. É o que foi mencionado pela pesquisadora como resgate do homem em seu convívio com a família. 

Em conclusão reafirmamos, com base nos argumentos acima, que a valorização e libertação da mulher, encontrada no pentecostalismo, não é em essência fruto de uma luta feminista, mas muito mais o resultado de uma experiência de retomada de relacionamento com Deus, em especial por parte dos homens que participam desta experiência. 

É a aproximação do ser humano dos valores bíblicos, reconhecidos como revelação da vontade de Deus, que o distanciam do erro. Por óbvio que esta afirmativa possa parecer, as constatações de alterações na sociedade e na família são prova de que a religiosidade praticada sob princípios bíblicos faz diferença, restaurando a importância da mulher e sua real capacidade de participação idônea. 

Há uma ação de Deus neste processo, na medida em que os indivíduos buscam a restauração de uma comunhão perdida um dia no Éden. Este resgate altera o modo como as coisas acontecem, transparecendo-se nas relações de poder. É por tais assertivas que reafirmamos que antes de ser um resultado de luta, na esfera do pentecostalismo o avanço no reequilíbrio do poder entre o homem e a mulher é resultado da inserção de ambos, homem e mulher, no projeto de Deus. 

Assim é verdade que “as igrejas oferecem um modelo para rearticular os homens e mulheres, redirencionando os homens de volta para a família”, como reconhecido pela Dra. Elizabeth, mas isto é obra advinda da conversão e do processo de retomada da vontade de Deus. Resta-nos reconhecer aqui limitações próprias das condições em que este artigo foi produzido, bem como das razões que justificaram sua demanda, merecendo o tema um continuado estudo.

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