Igreja de Deus no Brasil

Igreja de Deus no Brasil

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Somos pentecostais

Estatisticamente os pentecostais são atualmente o grupo cristão que apresenta maior taxa de crescimento. Visto desta forma estão computados os pentecostais clássicos, os neopentecostais e os carismáticos. E claro, a partir da própria existência do clichê “pentecostal”, os posicionamentos acontecem, revelando sensos de orgulho ou de desprezo pelo “ser pentecostal”. Dentre os pentecostais há os que chegam a dizer que “a minha igreja é do fogo, é pentecostal”; ou  “a minha é do retetê!”Mas o que significa de fato ser pentecostal, pensando em nosso contexto cristão?
O dia de pentecoste trouxe uma experiência unificadora, unindo judeus e gentios, convertidos segundo os ensinos de Cristo, dando forma à Igreja. Por isto somos uma só igreja (1Cor 12.13), com unidade espiritual (Ef 4.1). O que ocorreu naquele dia não foi uma experiência isolada para alguns cristãos, mas algo que compõe o próprio cristianismo, vez foi ordenado a todos que permanecessem em Jerusalém até o revestimento do alto (At 1.4). E todos permaneceram e foram cheios do Espírito Santo (At 2.1-4).
É interessante que diferente do que alguns pensam, as características do pentecostalismo vivido por aqueles irmãos difere das características de pentecostalismos vividas por alguns em nossos dias. Para alguns, ser pentecostal é ser barulhento, inflamado pelas sensações, incontrolável pelo “poder do Espírito”, ao ponto de quase entrar em transe, num êxtase que parece querer indicar que quanto mais profundo, maior o poder experimentado. Mas não foi assim naquele dia inaugural.
Comprova isto o fato de que logo após cheios do Espírito, e estando falando todos em línguas, a multidão se aproximou, buscando entender o que acontecia (At 2.6-12).  E houve os que zombavam, como é natural em qualquer evento (At. 2.13). E nos diz a Bíblia que Pedro se levantou, com os onze, e erguendo a voz, passou a proclamar a primeira mensagem pública da Igreja sem a presença de seu mestre em carne (At 2.14 ss).
Observe que eles não usavam equipamentos de som, e o número de ouvintes era significativo (At 2.42). Com certeza Pedro não poderia ter pregado como fez, se não houvesse o silencio adequado, a ordem adequada. Então podemos assegurar que o poder de Deus experimentado não foi caracterizado pela histeria, transe, descontrole, gritaria, ou qualquer outra coisa que possa se aproximar a algazarra, mas houve ordem, momento de falar em línguas, e momento de refrear a alegria para ouvir a mensagem de Pedro, sendo aquela a terceira hora do dia (nove horas da manhã – At 2.15).
Em nenhum momento da igreja primitiva, conforme os registros bíblicos, se vez o descontrole, o êxtase e o barulho como características do pentecostalismo. Então há que se perguntar o que então caracteriza esta benção, que é componente nato do cristianismo, não devendo na verdade caracterizar um grupo, mas toda a igreja cristã?
Ser pentecostal envolve pelo menos três aspectos, que lhe servem como característica. Um deles é o aspecto missionário. Olhando para os primórdios da Igreja Primitiva, percebemos que a prática do livro de Atos é ser cheio do Espírito Santo para testificar. O pentecostalismo em Atos dos Apóstolos é a essência da Igreja, diretamente relacionado com a atividade missionária. Os cristãos não eram cheios do Espírito Santo para simplesmente adquirirem o “rótulo” de super espirituais (estes na verdade não existem no contexto bíblico) ou se limitarem a falar línguas estranhas, ficarem “sentindo arrepios” ou coisa deste tipo. Este revestimento tinha um propósito: capacitar para testemunhar sobre o evangelho. Então, considerando a responsabilidade que cada discípulo de Cristo deve ter no cumprimento da grande comissão registrada em Mateus 28, podemos afirmar que ser pentecostal é ser cristão do jeito orientado por  Cristo, capacitado para cumprir o IDE de Mateus 28.19.
Também está intrínseca no movimento pentecostal a questão escatológica. Assim o pentecostal é caracterizado pela expectativa escatológica. Na época dos apóstolos e nos primórdios da Igreja, os crentes esperavam constante e intensamente pela volta do Senhor. Era costume na época, por exemplo, cumprimentar-se com a saudação "Maranata", que significa "Vem, nosso Senhor!" Era uma igreja que ansiava a volta de Cristo e se preparava para partir a qualquer hora, e não para ficar e usufruir do “melhor desta terra”. 
Em quase todas as suas cartas, os apóstolos escreviam sobre a esperança viva da volta de Jesus, apresentando-a as igrejas como sendo possível a qualquer momento. Paulo, por exemplo, alegrou-se com a igreja de Tessalônica e confirmou para os cristãos dali: "pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura" (1Ts 1.9-10). E a Timóteo ele fez saber: "já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda" (2Tm 4.8).
Os quase 270 capítulos do Novo Testamento mencionam aproximadamente 300 vezes a volta do Senhor Jesus. Só alcançaremos o nível espiritual e a vida santificada que o Novo Testamento ensina quando a espera pelo Senhor receber tanto espaço em nossos corações como o tinha nas igrejas dos tempos apostólicos. O Dr. Kaftan disse: "O maravilhoso poder da Igreja primitiva residia única e exclusivamente em sua esperança viva pela volta visível e pessoal de Cristo" (Extraído do artigo A Hora da Meia-Noite, de Norbert Lieth, publicado em http://www.chamada.com.br). E esta esperança está plenamente associada com o “ser pentecostal”. O terceiro aspecto relacionado ao pentecostalismo é o avivamento. A igreja pentecostal era avivada. O avivamento não era um programa, ou uma campanha, mas um jeito de viver sob o senhorio de Cristo, dirigida pelo Espírito Santo. As coisas não eram feitas ou decididas em benefício de um ou de outro, mas orientadas pela Palavra, com a direção do Espírito Santo.
Uma questão em que a perspectiva da igreja atual se choca com a perspectiva da igreja primitiva diz respeito ao entendimento sobre “a vida em abundância” prometida por Jesus em João 10.10. Parte da igreja de hoje propaga a vida em abundância sob a perspectiva de “quantidade” ou “duração da vida terrena”. Mas na verdade a igreja primitiva compreendia que Jesus estava se referindo a uma vida em verdade que resulta em liberdade tal, ao ponto do cristão poder afirmar, mesmo na pior das circunstâncias: “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13) ou “estou crucificado com Cristo. Agora, vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Todos os apóstolos foram martirizados, com exceção de João que passou o resto de sua vida em uma prisão. No tempo da igreja primitiva, um crente por dia era assassinado por causa de sua fé. Cerca de 300 crentes por ano eram mortos, 90 mil nos três primeiros séculos da igreja. A vida em abundância não se tratava de duração da vida, ou mesmo da libertação da morte, ou ainda na qualidade das relações sociais ou prosperidade financeira, até porque o que menos tinham eram direitos e bens. O que lhes sobejava eram perseguições e aflições (2Co 1.6; 7.5; 1Pe 4.13; 5.9; 2Tm 1.8).
Vida em abundância, prometida por Cristo, implicava em intensidade de vida na presença de Deus aqui na terra, enquanto a vida durasse. Podemos dizer, vida avivada pela comunhão cotidiana com Deus e com a Igreja. E garantia de vida eterna com Cristo.
Quanto a isso o apóstolo Paulo nos afirma: Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada(Rm 8.18). Esta vida em abundância não se limita às coisas terrenas, mas aponta para o que é espiritual e incorruptível, a recompensa de todos aqueles que foram, são e serão salvos no Senhor Jesus Cristo.
Longe de ser o barulho a característica do pentecostal bíblico, ele tinha os Dons do Espírito (Rm 12; 1 Co 12; Ef 4) para servir aos demais conforme o propósito de cada um dos dons. Mas acima de tudo, o poder do Espírito Santo se fez percebido pelo Fruto do Espírito (Gl 5.22,23). Ter poder de Deus é andar no Espírito (Gl 5.16).  O ápice da vida cristã é apresentar as virtudes do Fruto do Espírito Santo. Isto está intrinsecamente ligado ao “imitar a Cristo” (1Co 11.1) ou “desenvolver o seu caráter em nós” (Ef 4.22-24). É uma obra do Espírito Santo no homem (Tt 3.5;  2Ts 2.13). Muitos movimentos que se nominam pentecostais superestimam os Dons Espirituais e não enfatizam o Fruto do Espírito. Há algo que precisa ser revisado, pois o essencial não pode ser ignorado. Precisamos entender que para Deus o Fruto do Espírito vai pesar muito mais do que os dons quando tivermos que prestar contas a Ele.
Em Mateus 7, percebemos que há um grupo de pessoas que comparece diante do Senhor argumentando ter possuído dons espirituais., e muito “poder”, para profetizar, expulsar demônios e operar maravilhas. E de fato, Jesus não os desmente. Ele não afirma que eles faziam tais obras pelo poder do diabo ou coisa do tipo. O seu silêncio, neste sentido, parece autenticar a natureza das obras. No entanto, fica claro que este grupo é rejeitado pela ausência do Fruto do Espírito, quando Jesus diz: “nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticam a iniqüidade”.
Fizeram obras em nome do Senhor Jesus, se destacaram pela manifestação de dons em seus ministérios, mas se esqueceram do mais importante: desenvolver o caráter de Cristo. Ou seja, não foram conhecidos por Deus, não estiveram sob sua vontade. Para Deus o “ser” sempre virá antes do “fazer”. É claro que nossa vida cristã deve apresentar ações e obras, mas as mesmas devem ser resultados de um caráter comprometido com Jesus.
Portanto, ser pentecostal passa por estes três aspectos principais: visão e atividade missionária, inquietação pela expectativa da volta de Cristo e vida intensa na presença de Deus, dirigido pelo Espírito e tendo o Fruto do Espírito. Todos precisamos estar vigilantes, visando certificarmos de que estes valores estejam presentes em nossas vidas, caracterizando nosso ser pentecostal. Se presentes, está tudo bem. Podemos afirmar categoricamente que temos sido uma igreja pentecostal. Se não, devemos resgatá-los com urgência.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Falando em casas

É interessante o processo de construção de um edifício. Seja pequeno, ou grande, exige o envolvimento de várias qualificações profissionais. Pode até ser possível que uma só pessoa aglutine condições para sozinha fazer uma pequena construção, mas claro, será um projeto de pequenas dimensões e limitado quanto ao tempo de execução.

Na pequena construção, o nível de exigência será, claro, proporcional ao resultado esperado. Normalmente o projeto é simplificado. Até determinadas metragens, as próprias prefeituras fornecem projetos básicos, permitindo que necessidades populares sejam atendidas.

Se estivermos tomando como referência uma construção de maior porte, vários tipos de profissionais serão necessários. E de todos os níveis. Teremos os ajudantes de pedreiro, os pedreiros, passando pelos eletricistas, encanadores, pintores, mestres-de-obras, responsáveis pela logística, materiais, arquitetos, engenheiros, administradores, contadores, e com certeza, muitos outros.

E o que isto tem a ver com a igreja? A idéia de construção de casas foi usada por Jesus, que disse que ninguém se lança a construção de uma casa sem fazer, antecipadamente, todos os cálculos para verificar se terá capacidade de concluir a obra (Lc 14.28-30). Nossos planos são como uma construção. Tanto no processo, como no resultado. Não é razoável que esperemos que de um processo sem muitos investimentos, tenhamos um grande resultado.

A igreja é um grande edifício. Um edifício que tem todos os tipos de obreiros, desde os ajudantes, que podem ser tidos como os mais simples e menos qualificados, até aqueles de qualificação mais complexa, como os engenheiros, administradores, diretores de projetos, etc. É interessante que muitas tarefas desenvolvidas pelos ajudantes não seriam bem feitas se realizadas pelos administradores, pois só eles possuem a experiência para algumas das necessárias tarefas de uma construção, mas é essencial a participação de todos com fins a que algo grandioso seja edificado.

Na igreja, quem seriam os ajudantes? Quem seriam os pedreiros, os encanadores, os eletricistas, os projetistas, os arquitetos, os mestres-de-obras, e assim por diante? Como estamos na qualificação de cada um destes profissionais, de modo a que nosso projeto seja bem executado? Destas perguntas teremos os resultados de longo prazo.

Uma igreja onde os trabalhadores sejam em nível de ajudantes, somente, jamais poderá avançar para projetos mais significativos, bem como uma que apenas tenham o que poderia corresponder ao engenheiro. Um bom projeto precisa de todos. Há espaço e necessidade de todos os níveis de servos, preparados para as mais diferentes tarefas, para que se edifique uma igreja de maior significação. Por isto Deus deu à igreja uns para Apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para pastores e doutores (Ef 4.11). Igualmente dotou a igreja de uma diversidade de dons de manifestação espiritual (1Co 12.8-10), os dons de serviço (Rm 12.6-8), e, segundo alguns, vários outros dons e operações especiais.

Uma dificuldade que exige constante vigilância é o fato de que cada um de nós tende a enxergar o mundo a partir de seu ponto de vista, e assim tratar todas as questões. Exemplificando, para um marceneiro, os problemas tenderão a ter sua solução a partir do uso do martelo e do prego. Para um ferreiro, a bigorna e o fogo poderão ser a alternativa mais interessante. Então tenhamos sempre o cuidado em não desprezar a importância de cada um dos trabalhadores que devem estar envolvidos no trabalho onde estamos inseridos.

Deus nos elegeu um corpo, com uma diversidade necessária. Cumpre a nós o cuidado para de fato cooperarmos com Ele, sendo instrumentos de cumprimento de sua vontade expressa em Efésios 4.12-16 que especifica a razão da existência dos próprios líderes eclesiásticos, que seja, "tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor."

Deus seja conosco, nos dando sabedoria para servi-lo conforme sua vontade, e nunca conforme o que pensamos.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sexo e Poder


O lugar da mulher nas relações familiares e sociais chama à atenção cada vez mais. Não teria porque ser diferente a partir da consideração de que nossos dias assistem a um importante descortinar de possibilidades, conhecimentos e reconhecimentos. 

Através do trabalho de Elizabheth Brusco, que utilizou de pesquisa de campo e informações bibliográficas, com uma visão antropológica, no contexto colombiano, o empoderamento da mulher é considerado a partir de sua inserção ao pentecostalismo. A conversão das mulheres foi considerada um caminho para sua “emancipação”, ou pelo menos para uma condição de maior equilíbrio dentro do contexto familiar. 

A autora noticia conquistas de significado no ambiente de convívio, em específico no seio religioso, conferindo às mulheres um sentimento de relevância. Isto através de uma participação efetiva, com ações de liderança, de exercício de autoridade, e até mesmo de divisão do poder, como exemplifica no caso de esposas de líderes eclesiásticos. 

Por outro lado, aponta a fé religiosa como instrumento de retorno do macho aos valores e participação familiar. Uma domesticação do homem. Contudo, não reputando que os fatos apresentados se revistam de equívocos, a manutenção deste fenômeno meramente como objetivo de luta, a partir de uma perspectiva feminista, nos provoca a inserir a consideração destes resultados mais como consequências de algo que veio primeiro, ou seja, o do exercício de uma fé religiosa em si mesma. 

Assim objetivamos neste artigo, a partir de uma visão bíblico-teológica e de um vivência ministerial, mostrar que a restauração do respeito à mulher, bem como o resgate do homem, como membro ativo e participante da vida comum do lar, tendo na mulher um ser parceiro, a ser tão considerado quanto ele próprio, é fruto, essencialmente, não de um movimento social, mas da consideração da própria vontade de Deus. Trataremos do tema a partir da consideração de alguns pressupostos da própria fé religiosa, exemplos bíblicos e constatações resultantes da experiência pastoral de que dispomos. 

Entre os principais fatores para o desprezo da mulher como indivíduo é exatamente a não consideração da importância que o próprio Deus lhe deu enquanto ser criado, de modo especial, e do próprio homem (Gn. 2.21,22). E reconhecer a mulher como criada a partir do homem em nada diminui sua importância ou lhe relega um lugar de segundo plano, pois a mesma base utilizada para defender sua origem a partir do homem, a Bíblia Sagrada, também garante uma relação de parceria, de companheirismo, de criada a partir de mesmos elementos, a ponto de ser reconhecido pelo primeiro homem, que sua companheira era “carne de sua carne” e “osso de seu osso” (Gn 3.23).

Nenhuma relação de subserviência foi estipulada. O que aconteceu depois foi fruto de um desvio marcado pelo primeiro ato de rebeldia humano, quando um princípio foi quebrado: o de reconhecer como essencial a orientação do criador para suas criaturas (Gn. 3.6).

Aquele ato não só deu razões para a alteração profunda nas relações entre Deus e o homem, fato descrito em todo o contexto bíblico, mas também para o desequilíbrio das relações entre os próprios homens. Inaugurou um imenso número de males que marca a humanidade desde então.
Consta deste desequilíbrio a espoliação de um ser humano pelo outro, tal como, entre outros casos, se registra em todas as situações em que as mulheres são alvo da usurpação de seus direitos, pelos homens, as subjugando grosseiramente.
Pela importância que a consideração da essência religiosa merece, importa que nesta primeira consideração reste clarificado que a concepção religiosa, já a partir do projeto de Deus para o ser humano exigia uma consideração de parceria, auxílio idôneo, respeito e consideração (Gn. 2.18).

O contexto histórico registrado pela Bíblia é de uma humanidade carente de Deus. Na história registrada no Antigo Testamento esta humanidade passa por diversos percalços, que de modo claro nos aponta situações em que as mulheres continuam sem expressão, mas que também a humanidade continua distante de Deus. É uma continuidade de uma relação de desequilíbrio daquilo que um dia fora uma relação harmoniosa e de pleno companheirismo.

O Novo Testamento nos abre a consideração da mulher como participante no ministério de Cristo, presente, apoiando financeiramente, e tendo, inclusive, a liberdade de assumir diversas posições de destaque, como nos comprovam os registros do Apóstolo Paulo. Por seus registros, temos várias líderes de igrejas, conforme notas no último capítulo da Carta aos Romanos, e diversas outras notas símiles. Note-se que é um contexto religioso, com retomada de relações com Deus, fruto já do ministério de Cristo. 

A par do fato de que é neste contexto que palavras duras são expressas, tendo como objetivo limitar a liberdade da mulher, ao mesmo tempo a própria necessidade de regulação nos aponta uma expansão de sua participação. Sem objetivar relegar a limitação a plano inferior, a própria liberdade do uso de dons espirituais, como o dom de profecia e o dom de línguas também sofreu regulações, e todos em função de um excesso, e a bem da ordem (1Co. 14.34). Contudo abundantes são as provas de que a mulher estava presente não mais em um contexto de subjugação e humilhação, mas sob, inclusive, uma responsabilização ao homem, marido, de que deveria amá-la, a ponto de dar a sua vida por ela, assim como Cristo deu sua vida pela Igreja (Ef. 5.25).

Os valores então presentes no cristianismo primitivo, e consagrados nas páginas do Novo Testamento, são os mesmos trazidos ao seio das igrejas pentecostais modernas, objeto da consideração da pesquisadora em apreço. E são valores que encontram a humanidade igualmente carente e distante daqueles preceitos queridos pelo Criador, que em momento algum permitiu o desprezo à mulher. 

Ocorre que, antes da consideração de uma busca pela libertação social, a mulher alcançada pelo movimento pentecostal, em regra, é primeiro alcançada pelo reconhecimento de sua condição de distante de Deus, como consequência de uma distância que marca a própria humanidade. Tal distância é comprovada pelas práticas comuns de toda sorte de ações que findam por causar dano aos próprios praticantes, mesmo que sob o objetivo de obtenção de prazer. Ao final tão somente comprovam a necessidade que todo homem tem de se guiar por valores religiosos, dando valor ao seu lado transcendental. 

Estes valores cristãos em evidência é que são buscados em primeiro plano. Até porque, como bem registrado pelo texto da Dra. Elizabeth Brusco, as mudanças no seio da família não se dão com as conversões das mulheres, mas com as conversões dos homens. Assim, quando as mulheres veem à igreja, à única segurança que de fato podem ter é a de satisfação de sua fé. Um sem número de mulheres na igreja continuam a sofrer as relações desiguais em suas famílias e por onde mais possa conviver. A igreja não deve vender o que não pode entregar. E uma destas coisas, que ela não pode entregar, é exatamente a garantia de valorização social, além de suas próprias fronteiras. 

É claro que o ambiente da própria igreja é uma busca, mesmo que sob as limitações de todos que a compõem, de retomada de valores divinos, incluso em relação à adequada valorização do gênero. E não é adequada exatamente porque a igreja é o local onde acontece um processo de aproximação do homem com seu Criador. Processo expresso no contexto bíblico por ideias, tais como a que diz que “a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”.

 Este processo também é expresso no conceito teológico da santificação. Um processo constante e gradual de assimilação de características do próprio Deus e igualmente gradual distanciamento de pensamentos, palavras e obras desprezíveis do ponto de vista da vontade revelada de Deus, a Bíblia Sagrada. Neste processo está a transformação do ser humano, e sua reconsideração dos valores de Deus. Como é processo, é natural que sejam encontrados no seio da igreja, ainda, reconhecível distância do ideal. Por tal, reputa-se como marca da necessidade de crescimento espiritual a presença do machismo até no seio da igreja, mas também são percebíveis conquistas neste sentido. 

A tese de que a igreja é procurada em razão da condição de marginalizados daqueles que a procuram, com o fito de meramente buscarem uma reinserção, despreza também o sentido da fé e carência espiritual destes que se tornam fieis. Não se pode desprezar a presença de um movimento feminista no seio da igreja, mas de nenhuma forma é razoável que o fator “conversão” seja desprezado como motivo maior para a vinda das mulheres para o ambiente pentecostal. Comprova-se isto a premissa bíblica de que “quem quer vir após Cristo deve negar-se a si mesmo” (Mc. 8.34). Vejamos: antes de ser um objetivo, o resgate do indivíduo, a fé cristã tem por princípio a autonegação. Só com esta autonegação é que ocorre o que podemos constatar a retomada de posicionamento, agora em busca da correçao de valores. É o que foi mencionado pela pesquisadora como resgate do homem em seu convívio com a família. 

Em conclusão reafirmamos, com base nos argumentos acima, que a valorização e libertação da mulher, encontrada no pentecostalismo, não é em essência fruto de uma luta feminista, mas muito mais o resultado de uma experiência de retomada de relacionamento com Deus, em especial por parte dos homens que participam desta experiência. 

É a aproximação do ser humano dos valores bíblicos, reconhecidos como revelação da vontade de Deus, que o distanciam do erro. Por óbvio que esta afirmativa possa parecer, as constatações de alterações na sociedade e na família são prova de que a religiosidade praticada sob princípios bíblicos faz diferença, restaurando a importância da mulher e sua real capacidade de participação idônea. 

Há uma ação de Deus neste processo, na medida em que os indivíduos buscam a restauração de uma comunhão perdida um dia no Éden. Este resgate altera o modo como as coisas acontecem, transparecendo-se nas relações de poder. É por tais assertivas que reafirmamos que antes de ser um resultado de luta, na esfera do pentecostalismo o avanço no reequilíbrio do poder entre o homem e a mulher é resultado da inserção de ambos, homem e mulher, no projeto de Deus. 

Assim é verdade que “as igrejas oferecem um modelo para rearticular os homens e mulheres, redirencionando os homens de volta para a família”, como reconhecido pela Dra. Elizabeth, mas isto é obra advinda da conversão e do processo de retomada da vontade de Deus. Resta-nos reconhecer aqui limitações próprias das condições em que este artigo foi produzido, bem como das razões que justificaram sua demanda, merecendo o tema um continuado estudo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E nós, temos feitos discípulos?

Nada como viver o que Cristo nos ordenou. Ele com certeza nos ordenou fazer discípulos. E esta prática é tão atual hoje, que beira a um modismo. Podemos dizer que a estratégia de Cristo está em alta. O negócio é “que cada crente seja um ministro”. Amém.
São afirmativas realmente bíblicas, interessantes, importantes, essenciais. Aliás, devemos muito a maioria dos movimentos destes últimos anos, pois não deixam de sempre trazer à memória da igreja verdades bíblicas não vividas. São estas verdades não vividas que abrem portas tanto para despertamentos importantes, como o que citei acima, como para desvios, afirmativas incorretas, falsas doutrinas. Melhor seria se nossa vigilância com a Palavra fosse constante.  
Neste sentido uma pergunta me incomoda: temos realmente cumprido a vontade de Deus no tocante a fazer discípulos? Uma constatação triste para mim é que das igrejas, pelo menos de minha denominação e em minha realidade geográfica, que vivem o momento da exaltação do discipulado, não temos muitos alunos fazendo um curso sério de teologia. Há um mover para cursos rápidos, para formar os líderes de células ou pequenos grupos, mas que nada mais oferecem que um conhecimento primário da fé cristã.
E a vontade de Cristo é esta? O que significa a ordem de Cristo quando prescreve: “ensinando-os a obedecer “a tudo o que tenho ordenado a vocês” (Mt 28.20)? É isto mesmo. Jesus nos deu a ordem de fazer discípulos, mas em torno desta ordem determinou o conteúdo deste discipulado. Fico me perguntando se eu tenho sido discipulado neste limite e se tenho condições de cumprir esta ordem. E o que isto implica em minha vida e na vida de todos nós que servimos (ou devemos servir) a nosso SENHOR Jesus Cristo.
Se nos atermos ao contexto, vamos recordar que esta ordem alcançou pessoas que fizeram um intensivão de mais de três anos, manhã, tarde e noite, com o próprio mestre Jesus Cristo. Se isto não for um big curso de teologia, equivalente a uma formação plena (bacharel) com todas as pós graduações possíveis (especializações, mestrados, doutorados e pós doutorados), então nós é quem não sabemos avaliar o que é ensino de qualidade.
Veja o mestre. Que era?  Veja de onde o mestre tirava sua inspiração e sabedoria. Com quem o mestre tinha intimidade? Já aos doze anos este mestre deixava os doutores da época impressionados (Lc 2.46). E a didática, será que ele a dominava? E a administração do tempo, a sabedoria na aplicação do ensino? Aquele curso foi demais. Ou não?
Ai ele nos ordenou para ensinar um pouco do que tinha ordenado? Não. E por que nos limitamos em nossos incentivos, investimentos, tempo? Por que temos tanta pressa em impor a alguém tarefas, e tanto descaso em incentivá-los a investir no estudo? Talvez seja porque basta que ensinemos um pouco do que Cristo ordenou. Mas não parece que fica um problema?
O texto na verdade ordena: é para ensinar tudo que vos tenho ordenado. Tudo é tudo. É claro que para ensinar tudo, também devo conhecer tudo. Me esforçar por conhecer este tudo é um desafio que implica em continuar estudando, pois o Apóstolo João nos informa que Jesus fez tantas coisas, ou seja, no mínimo, a parte prática de seu curso foi tão intensa, que não haveria em sua época meios de serem feitos os registros de tudo (Jo 20.30; 21.25). Portanto, qualquer homem de Deus, por princípio, deve ser um investigador, para melhor conhecer o que Jesus ensinou.
A preocupação de nosso Deus com o correto discipulado é tão séria que foi imposta uma condição para que alguém chegasse à condição de pastor. Sabe-se que no primeiro século os termos bispo, ancião, presbítero e pastor não tinham a distinção que vieram a ter a partir do quarto século. A ordem do Espírito Santo, através de Paulo, dada a Timóteo era que o bispo deveria ser apto ao ensino (1 Tm 3.2). Ou seja, qualificado. Por quê?
Porque Deus quer que os discípulos recebam o conhecimento de tudo, repito, tudo o que Jesus ensinou. Ninguém pode ensinar mais do que sabe. Ninguém pode dar mais do que tem. Não estamos falando de uma ditadura do conhecimento, mas de uma prática bem clara no evangelho: precisamos estar em constante aprendizado, e em constante prática do ensino. Esta é uma tarefa que não terá fim nesta vida.
Cada homem de Deus deve funcionar como um filtro de água, destes que possuem uma grande abertura em cima, para receber água, e uma pequena torneira em baixo, para servir aos copos. Enquanto nos ocupamos de encher os copos daqueles que discipulamos, com “tudo” que Jesus ordenou, Ele, Jesus, deve ter oportunidade de nos encher usando um balde, pela abertura superior.
Alguém pode até dizer: “mas não tive oportunidade de ir a uma escola para um ensino mais organizado e profundo”. Não teve mesmo. Hoje ainda não pode. Peça a Deus. Ele cria as oportunidades, pois é ele quem deseja que estejamos preparados.
Mais tarde o próprio Paulo afirma que estar apto ao ensino na verdade é dever de todo servo do Senhor (2 Tm 2.24). Claro, qual será o resultado de pessoas bem discipuladas? Capacidade para bem discipular outros.
É interessantíssimo o zelo de Paulo com esta questão. Quando se encontra em Mileto, com os presbíteros de Éfeso, ele diz que por três anos não cessou de ensina-los, noite e dia (At 20.31). Paulo também era um mestre, homem bem qualificado para o ensino. Deu um curso. Um grande curso. E estes alunos o procuraram para continuar o aprendizado. E por quê? Porque aprenderam o que todo grande estudioso aprende: que no final, como o filósofo Sócrates afirmou, “Sói sei que nada sei. É doído vermos alguns satisfeitos com pouco, no que diz respeito ao conhecimento de Deus. Desafio meus leitores a fazer um cálculo do que significaria a duração em horas/aula deste curso que Paulo ministrou aos presbíteros de Éfeso. Quem sabe também possa ser calculada a carga horária do curso ministrado por Cristo aos seus doze. E depois compare com o pouco que investimos no conhecimento de nosso Senhor. Precisamos orar. Pensar. E depois responder: estamos fazendo discípulos como Jesus ordenou?