Igreja de Deus no Brasil

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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E nós, temos feitos discípulos?

Nada como viver o que Cristo nos ordenou. Ele com certeza nos ordenou fazer discípulos. E esta prática é tão atual hoje, que beira a um modismo. Podemos dizer que a estratégia de Cristo está em alta. O negócio é “que cada crente seja um ministro”. Amém.
São afirmativas realmente bíblicas, interessantes, importantes, essenciais. Aliás, devemos muito a maioria dos movimentos destes últimos anos, pois não deixam de sempre trazer à memória da igreja verdades bíblicas não vividas. São estas verdades não vividas que abrem portas tanto para despertamentos importantes, como o que citei acima, como para desvios, afirmativas incorretas, falsas doutrinas. Melhor seria se nossa vigilância com a Palavra fosse constante.  
Neste sentido uma pergunta me incomoda: temos realmente cumprido a vontade de Deus no tocante a fazer discípulos? Uma constatação triste para mim é que das igrejas, pelo menos de minha denominação e em minha realidade geográfica, que vivem o momento da exaltação do discipulado, não temos muitos alunos fazendo um curso sério de teologia. Há um mover para cursos rápidos, para formar os líderes de células ou pequenos grupos, mas que nada mais oferecem que um conhecimento primário da fé cristã.
E a vontade de Cristo é esta? O que significa a ordem de Cristo quando prescreve: “ensinando-os a obedecer “a tudo o que tenho ordenado a vocês” (Mt 28.20)? É isto mesmo. Jesus nos deu a ordem de fazer discípulos, mas em torno desta ordem determinou o conteúdo deste discipulado. Fico me perguntando se eu tenho sido discipulado neste limite e se tenho condições de cumprir esta ordem. E o que isto implica em minha vida e na vida de todos nós que servimos (ou devemos servir) a nosso SENHOR Jesus Cristo.
Se nos atermos ao contexto, vamos recordar que esta ordem alcançou pessoas que fizeram um intensivão de mais de três anos, manhã, tarde e noite, com o próprio mestre Jesus Cristo. Se isto não for um big curso de teologia, equivalente a uma formação plena (bacharel) com todas as pós graduações possíveis (especializações, mestrados, doutorados e pós doutorados), então nós é quem não sabemos avaliar o que é ensino de qualidade.
Veja o mestre. Que era?  Veja de onde o mestre tirava sua inspiração e sabedoria. Com quem o mestre tinha intimidade? Já aos doze anos este mestre deixava os doutores da época impressionados (Lc 2.46). E a didática, será que ele a dominava? E a administração do tempo, a sabedoria na aplicação do ensino? Aquele curso foi demais. Ou não?
Ai ele nos ordenou para ensinar um pouco do que tinha ordenado? Não. E por que nos limitamos em nossos incentivos, investimentos, tempo? Por que temos tanta pressa em impor a alguém tarefas, e tanto descaso em incentivá-los a investir no estudo? Talvez seja porque basta que ensinemos um pouco do que Cristo ordenou. Mas não parece que fica um problema?
O texto na verdade ordena: é para ensinar tudo que vos tenho ordenado. Tudo é tudo. É claro que para ensinar tudo, também devo conhecer tudo. Me esforçar por conhecer este tudo é um desafio que implica em continuar estudando, pois o Apóstolo João nos informa que Jesus fez tantas coisas, ou seja, no mínimo, a parte prática de seu curso foi tão intensa, que não haveria em sua época meios de serem feitos os registros de tudo (Jo 20.30; 21.25). Portanto, qualquer homem de Deus, por princípio, deve ser um investigador, para melhor conhecer o que Jesus ensinou.
A preocupação de nosso Deus com o correto discipulado é tão séria que foi imposta uma condição para que alguém chegasse à condição de pastor. Sabe-se que no primeiro século os termos bispo, ancião, presbítero e pastor não tinham a distinção que vieram a ter a partir do quarto século. A ordem do Espírito Santo, através de Paulo, dada a Timóteo era que o bispo deveria ser apto ao ensino (1 Tm 3.2). Ou seja, qualificado. Por quê?
Porque Deus quer que os discípulos recebam o conhecimento de tudo, repito, tudo o que Jesus ensinou. Ninguém pode ensinar mais do que sabe. Ninguém pode dar mais do que tem. Não estamos falando de uma ditadura do conhecimento, mas de uma prática bem clara no evangelho: precisamos estar em constante aprendizado, e em constante prática do ensino. Esta é uma tarefa que não terá fim nesta vida.
Cada homem de Deus deve funcionar como um filtro de água, destes que possuem uma grande abertura em cima, para receber água, e uma pequena torneira em baixo, para servir aos copos. Enquanto nos ocupamos de encher os copos daqueles que discipulamos, com “tudo” que Jesus ordenou, Ele, Jesus, deve ter oportunidade de nos encher usando um balde, pela abertura superior.
Alguém pode até dizer: “mas não tive oportunidade de ir a uma escola para um ensino mais organizado e profundo”. Não teve mesmo. Hoje ainda não pode. Peça a Deus. Ele cria as oportunidades, pois é ele quem deseja que estejamos preparados.
Mais tarde o próprio Paulo afirma que estar apto ao ensino na verdade é dever de todo servo do Senhor (2 Tm 2.24). Claro, qual será o resultado de pessoas bem discipuladas? Capacidade para bem discipular outros.
É interessantíssimo o zelo de Paulo com esta questão. Quando se encontra em Mileto, com os presbíteros de Éfeso, ele diz que por três anos não cessou de ensina-los, noite e dia (At 20.31). Paulo também era um mestre, homem bem qualificado para o ensino. Deu um curso. Um grande curso. E estes alunos o procuraram para continuar o aprendizado. E por quê? Porque aprenderam o que todo grande estudioso aprende: que no final, como o filósofo Sócrates afirmou, “Sói sei que nada sei. É doído vermos alguns satisfeitos com pouco, no que diz respeito ao conhecimento de Deus. Desafio meus leitores a fazer um cálculo do que significaria a duração em horas/aula deste curso que Paulo ministrou aos presbíteros de Éfeso. Quem sabe também possa ser calculada a carga horária do curso ministrado por Cristo aos seus doze. E depois compare com o pouco que investimos no conhecimento de nosso Senhor. Precisamos orar. Pensar. E depois responder: estamos fazendo discípulos como Jesus ordenou?